30.1.15

Cinebiografias de músicos famosos - e outros nem tanto.

Muitas vezes temos um ídolo no mundo musical em especial; aquele que você não aguentaria ver sendo retratado de forma errônea na tela do cinema. Uma dessas experiências ruins aconteceu comigo quando assisti o filme CBGB- O Berço do Punk Rock. Como, pensei, o diretor achou que era uma boa ideia escalar Malin Akerman como a Debbie Harry? E Taylor Hawkins como Iggy Pop? Para mim, nem o fato de Rupert Grint interpretar Cheetah Chrome do Dead Boys salvou um filme que deveria ser uma ode ao punk dos anos 1970! Hilly Kristal que o diga!
Mas, como em tudo na vida, há suas exceções. Existem aquelas películas que conseguem mostrar quem, para você, o seu músico favorito realmente é.
Para aproveitar essa ocasião, listo algumas cinebiografias que, apesar de algumas falhas - nada é perfeito, afinal - mostram os nossos artistas de modo conciso e bem pensado.
Dignos para as telas de nossos olhos!
Vamos lá? 

1. Control (2007)  



Controle- A História de Ian Curtis, o primeiro longa- metragem do fotógrafo Anton Corbjin, conta a história conturbada de Ian Curtis da banda pós-punk Joy Division. Suicidando-se com apenas 23 anos, Ian casou-se cedo, tinha somente 18 anos, com a namorada Deborah Wooduff e depois de assistir à um dos shows da banda Sex Pistols decidiu que seria músico pelo resto de sua vida.
O filme é baseado no livro Tocando a Distância escrito por Deborah, a viúva de Curtis que, aliás eu resenhei sobre no meu outro blog
Ian Curtis é interpretado pelo talentoso Sam Riley e Deborah por Samantha Morton. A película é feita inteiramente em preto e branco e reconta a história dele desde sua adolescência, obcecado por David Bowie - tanto que inicialmente o nome da banda era Warsawa- passando por sua epilepsia e seu caso com Annik Honoré até a sua fatal morte.
Ian era eufórico no palco com sua "dança epiléptica" como marca registrada.
O filme é visualmente belo, com referências que vão desde Lou Reed até os Buzzcocks, porém algumas nuances não me agradaram. O retrato de Ian, como um mártir gótico e inatingivelmente preocupado, não corresponde aos relatos dos seus amigos mais íntimos. Tanto Deborah quanto Peter Hook, em seus livros, deixam claro que ele tinha uma personalidade de camaleão. Ian se moldava de acordo com quem estava: era brincalhão com seus colegas de banda, era o cult-artístico com sua amante e controlador e "esposo" para sua mulher. Na película ele simplesmente parece perturbado na maior parte do tempo.
 Por este papel Sam Riley foi considerado o ator mais promissor de 2007.
Control conseguiu cobrir a doença de Ian a epilepsia de forma real, porém peca ao colocá-la apenas como um empecilho que acontecia de vez em quando, quando na verdade era parte da vida dele. Senti falta de uma maior autenticidade na cinebiografia sobre sua condição.
O filme, ademais, é sem dúvidas, uma obra cinematográfica de primeira qualidade, com atuações incríveis e uma atmosfera envolvente, porém aconselho que leiam a biografia que deu início à ele. Lá vocês verão um Ian mais sombrio, mais controlador e sim, menos persona e mais humano.
E se vocês ainda não assistiram a esse filme, recomendo que o façam agora! 

2. A Música da Alma (2012) 


The Sapphires, conta a história de um grupo feminino aborígene dos anos 1960 na Austrália. Nele, as três irmãs e uma prima são descobertas pelo agente Dave Lovelace que a transformam de um ato "country" para um grupo de soul music, porém antes de realizarem o sonho de serem famosas, com um viés é claro, elas cantam para o exército durante a Guerra do Vietnã. 
O filme é bem leve e divertido, repleto de sucessos soul que vão desde Marvin Gaye até Linda Lyndell e mesmo que não seja fiel a todos os fatos do grupo real continua a te surpreender. No filme há a introdução de Dave, uma pessoa que não existiu de verdade na vida do grupo e coloca as quatro mulheres na guerra quando na verdade apenas Laurel Robinson (mãe do roteirista da película Tony Briggs) e sua outra irmã Lois Peeler aceitaram participar da viagem, já que as outras eram contra o que ocorria no Vietnã
Laurel à esquerda e Lois, as "verdadeiras" Sapphires.
Com falas engraçadas, ritmo rápido e um olhar afiado sobre a guerra e a luta dessas quatro mulheres, esse é um filme para você sentar, curtir a música e esquecer de todo o resto.

3. Cazuza- O Tempo Não Para(2004)


As pessoas até podem reclamar que esse é o único filme brasileiro que entra nas listas das cinebiografias, mas é por uma razão. Cazuza - O Tempo Não Para é uma das grandes obras do cinema nacional pela atuação incrível de Daniel de Oliveira e um roteiro que mistura o fictício muito bem com o relato escrito no livro da mãe de Agenor: Lucinha de Araújo.
Daniel de Oliveira- a direita- teve de perder 12 quilos para interpretar Cazuza.
Recordo-me muito bem da primeira vez que vi esse filme. Fiquei encantada com o visual intimista dessa história e Daniel, mesmo não sendo fisicamente parecido com Cazuza, fez um grande trabalho ao copiar seus trejeitos e ao trazer consciência para uma história que há muito precisava ser ouvida.
O cinema brasileiro está evoluindo e expandindo em termos de cinebiografias, como podemos ver em Tim Maia (2014), mas em minha opinião nenhum deles, ainda, chegou perto desta obra.

4. Música e Lágrimas (1954)


Talvez eu seja um pouco parcial demais para falar deste filme, já que contém dois dos atores que mais admiro: o James Stewart e a June Allyson. Porém o The Glenn Miller Story é um daqueles filmes tocantes que fazem você rir, chorar e torcer pelos personagens sempre.
A história é baseada na vida de Glenn Miller, um músico de jazz e um bandleader na época do swing. Nascido no estado do Iowa, Glenn não teve sucesso na música por muito tempo. Pensou até em desistir, mas não conseguia se livrar da influência da música. Mudou-se em 1937 para Nova York em busca de um novo som e lá com 34 anos encontrou o sucesso que tanto buscava. 
Morrendo depois de apenas 6 anos bem-sucedidos, Glenn continua a intrigar os críticos com alguns dizendo que sua influência para a música foi insignificante e outros afirmando que ele moldou a direção da nova música popular.
Miller- o verdadeiro à esquerda- fazia questão de compor todas as suas músicas.
O diretor Anthony Mann, conhecido por seu trabalho em El Cid (1961), fez um incrível trabalho mostrando a luta interna de Miller, de um desconhecido a alguém que desfrutou um sucesso rápido, mas com certeza não passageiro. A mulher dele, Helen Miller, acompanhou de perto a produção do filme, porém depois, já nos anos 1960, passou a não se envolver mais com o trabalho de seu falecido marido.
A película é um drama, que como o título diz, com certeza te fará chorar. E aí que tal dar uma chance à uma grande estrela do bigband jazz?


5. Dorothy Dandridge - O Brilho de uma Estrela (1999)


Para aqueles que não sabem, Dorothy Dandridge foi a primeira mulher negra a ser indicada para o melhor Oscar de Melhor Atriz por seu filme Carmen Jones. Perdendo em 1954 para Grace Kelly, Dorothy era o que chamamos de ameaça tripla: dançava, cantava e atuava. Como uma artista negra,no entanto, muitas vezes não podia nem ao menos se hospedar nos lugares que cantava.
O filme, que conta com Halle Berry no papel, não foi feito para o cinema, mas continua um filme fiel a essência atormentada desta grande artista da era de ouro de Hollywood.

Halle - à esquerda- até tirou do seu salário o dinheiro para filmar a cena que Dorothy chega no
tapete vermelho do Oscar.
 
Como nas maiorias das cinebiografias, esta tende a pender no lado mais sentimental forçando uma conexão com os personagens, porém as atuações, a fotografia e a direção de Martha Coolidge fazem com que esse seja um filme que você simplesmente precisa ver!

6. O Garoto de Liverpool (2009)

Por que, vocês devem pensar, esse filme está na lista? Para mim, apesar de admitir que Aaron Taylor- Johnson não parece em nada com John Lennon, ele realmente conseguiu me convencer do contrário neste filme. Além disso, me recuso a colocar Backbeat(1994) na lista, já que tem várias incoerências no linear da história e retrata Cynthia Lennon como uma interesseira e louca para "amarrar' John, coisa que ela não era e nunca foi.  
Enfim, este filme dirigido pela Sam Taylor- Wood me conquistou. Apesar de algumas liberdades artísticas, ela conseguiu retratar bem a relação entre John e sua tia Mimi, além da necessidade que ele tinha de ser aceito por sua mãe, Julia. 
O drama familiar é plenamente explorado neste filme.
A película somente cobre o início do que viria ser os The Beatles, mas ganha pontos por sua sensibilidade ao tratar de dramas familiares e o nascimento de estrelas do rock. 

7. Uma Noite com o Rei do Rock (1988)

Tudo bem, eu admito, este filme não é exatamente uma cinebiografia, mas  trata de uma parte da vida do rei do Rock e apesar de não me convencer muito com a atuação de David Keith como Elvis, a película é uma daquelas que você assiste por simplesmente te fazer sorrir. A história é sobre uma família na qual a mãe, Marie Wolfe (Tuesday Welch) tenta se suicidar e assim seu filho Johnny decide com seus amigos de banda sequestrar o maior ídolo de Marie, o próprio Elvis Presley. 

O entrosamento dos atores, com Elvis sendo até uma espécie de figura paterna, faz todo o sentido e é muito bem construída. Para aqueles que não sabem, o Rei do Rock era conhecido por sua generosidade comprando carros e até ajudando com o seu dinheiro pessoas desconhecidas. Para mim, então, o roteiro faz todo o sentido usando a desculpa de um Elvis já com medo de não fazer mais sucesso ajudando a família de uma mulher que o venera, tudo munido com seu grande coração.
Por isso, eu friso, assista e logo!

Munidos de histórias sobre músicos famosos,  e outros nem tanto, as cinebiografias continuam a retratar pessoas que, depois de tanto tempo, seguem a nos inspirar com suas histórias de superação de vida e nos divertir assim que a vemos nas telas de cinema.
E aí, quais são suas cinebiografias sobre músicos favoritas? 


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